sexta-feira, 31 de maio de 2013

Mulher negra é duplamente discriminada no trabalho


A mulher negra é duplamente discriminada --por ser mulher e por ser negra-- no mercado de trabalho. Pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos) mostra que o desemprego é maior para as negras do que para as não-negras (brancas e amarelas). Além disso, as negras que saíram do desemprego ainda recebem os menores salários do mercado. "A idéia do estudo é trazer uma nova luz sobre o problema para que se possam definir políticas para reverter a situação [da discriminação racial]", afirmou a coordenadora da pesquisa do Dieese, Solange Sanchez. Segundo ela, a discriminação entre homens e mulheres no mercado de trabalho é maior para as negras. "A pesquisa focaliza o negro no mercado de trabalho, onde se garante a sobrevivência e se busca a realização profissional", disse. A pesquisa do Dieese foi divulgada hoje, às vésperas do Dia da Consciência Negra, comemorado na quinta-feira, no 308º aniversário de morte de Zumbi dos Palmares. A coordenadora da pesquisa afirmou que essa discriminação pode ser verificada nos indicadores de renda e desemprego. Na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, a taxa de desemprego da mulher negra é de 26,2% contra 18,8% das não-negras. O desemprego da mulher negra é maior do que a taxa do homem negro (19,9%) e do não-negro (13,3%). As mulheres negras também demoram mais tempo para encontrar um novo emprego. Em São Paulo, a mulher negra demora 12 meses para se inserir no mercado de trabalho, contra 11 meses da não-negra, ou seja: uma diferença de quatro semanas. Educação Sanchez afirmou que nem mesmo a elevada escolaridade é capaz de reduzir os empecilhos para a ascensão da mulher negra no mercado de trabalho. No Distrito Federal, por exemplo, a taxa de desemprego para as negras com ensino superior é de 10,3%, contra um desemprego de 9,5% para as não-negras. Entre as negras com ensino médio incompleto o desemprego sobe para 40,3%. Segundo a coordenadora, a situação da mulher negra não é melhor quando ela consegue se inserir no mercado de trabalho. "A mulher negra acaba ocupando as vagas menos valorizadas, como o emprego doméstico e no setor de serviços, que são mais precárias e pagam salários menores." De acordo com a pesquisa, 30% das mulheres negras ocupadas da região metropolitana de São Paulo estão no emprego doméstico. Apenas 13% das brancas estão no mesmo tipo de ocupação. Mesmo no setor público, onde as contratações são feitas por concurso público e sem o peso da discriminação, a ocupação é maior para as não-negras. Em São Paulo, 12,1% das não-negras estão no setor público, contra 9,1% das negras. A pesquisa mostra que as negras ocupam menos cargos de chefia e de planejamento dentro das empresas. Em São Paulo, apenas 4,2% das mulheres negras ocupam cargos de chefia, contra 15,7% das vagas de direção ocupadas por mulheres não-negras. As mulheres negras recebem os menores salários do mercado de trabalho. Em São Paulo, o salário médio pago para as mulheres negras é de R$ 494, menor do que os R$ 896 recebidos pelas não-negras e do que os R$ 756 dos homens negros. "Não vai haver um Brasil melhor enquanto houver dois países: um branco e outro negro. Não adianta se indignar com os dados de discriminação da pesquisa e depois fazer de conta que não é nada", disse a representante da CUT no Dieese.

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