sexta-feira, 31 de maio de 2013

Negros são discriminados nos mercados de trabalho 


O Brasil é o segundo país com mais habitantes negros no mundo, atrás apenas da Nigéria. A população brasileira, estimada em 184,4 milhões de pessoas, tem pelo menos 91 milhões que se declararam de cor preta ou parda, ao responder à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), do IBGE. Mas, apesar de significativo, esse contingente esconde realidades perversas – muitas expressas por alguns indicadores sociais. No mercado de trabalho, os números são reveladores da situação do negro na sociedade brasileira: na esmagadora maioria, trata-se de um cidadão que vive sempre à margem e em desvantagem devido à discriminação e ao preconceito.

No estudo “Os negros nos mercados de trabalho metropolitanos”, divulgado recentemente pelo DIEESE, com base em dados relativos ao período de 1998 a 2006, informa-se que a ocupação de pretos e pardos em seis regiões onde se realiza a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) – Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo e Distrito Federal – é mais precária que a dos não-negros e a proporção deles no contingente de desempregados supera a porcentagem de negros na População Economicamente Ativa (PEA).

O quadro de desigualdade social registrado pelo levantamento tem raízes históricas. “A falta de políticas para a incorporação dos ex-escravos ao mercado de trabalho assalariado e a dificuldade de acesso aos serviços de educação e saúde colocaram essa população à margem dos progressos da sociedade brasileira, contribuindo para as origens da pobreza e da desigualdade enfrentadas pelos negros”, constatam os autores do estudo.

No mercado de trabalho, como aponta o relatório, a segregação dos negros torna-se ainda mais evidente quando se observam os indicadores de emprego, rendimento e qualidade de ocupação. De acordo com a análise dos técnicos do DIEESE, a inserção desvantajosa dos negros no mercado está relacionada com sua baixa escolaridade, devido à dificuldade de acesso à educação regular e a pobreza vivida pela maioria da população negra, que, não à toa, sempre se encontra numa situação mais vulnerável em relação à dos não-negros (brancos e amarelos).

É o que demonstram, por exemplo, os dados captados pela PED, entre agosto de 2005 e julho de 2006, no conjunto das seis regiões metropolitanas. A proporção de trabalhadores negros em relação ao total de ocupados em situações descritas como vulneráveis ou precárias variou de 33,5%, no Distrito Federal, a 42,7%, em Salvador. Os percentuais são menores no caso de não-negros, situando-se entre 25,6%, em Brasília, e 33,7%, em Recife.

A proporção de mulheres negras ocupadas em condições desfavoráveis de trabalho é ainda mais elevada. Considerado o mesmo período, situa-se sempre acima da registrada entre os homens negros, variando de 42,8%, no Distrito Federal, até alcançar 51,7%, em Salvador.

Além da ocupação precária, as mulheres negras são vítimas de outra perversidade observada no mercado de trabalho: a baixa remuneração. O estudo revela, por exemplo, que seus rendimentos equivalem a 34% do rendimento obtido pelos homens não-negros, em Salvador, enquanto a relação menos desfavorável foi constatada na Grande Porto Alegre, onde o que elas recebem, em média, não supera 49% do ganho deles.

Os técnicos do DIEESE responsáveis pelo estudo concluem que a posição desfavorável dos negros no mercado de trabalho brasileiro somente poderia ser alterada com a adoção de políticas de redução da pobreza, de campanhas que denunciassem a discriminação, além de outras dirigidas especificamente à população negra e, principalmente, pela garantia de acesso e pelo aumento da oferta de serviços públicos de qualidade como a educação. Segundo eles, esse é o caminho mais curto para a inserção dos negros no mercado de trabalho, uma vez que educar significa formar cidadãos, que precisam estar cada vez mais preparados para disputar espaços públicos e defender seus interesses na sociedade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário