domingo, 6 de maio de 2018

O sistema é bruto

Gerado de um ser desnutrido
Vindo comigo sua carga genética
Já nasci no corredor da morte
Sentia na pele o descaso
Nas filas da maternidade
Concebido com o atestado óbito
Driblei a morte vence a inanição
Nem leite no peito tive direito
Chorei lágrimas de sangue
Nenhum ouvido me ouvia
O sistema é bruto ele cobra
O que ele nunca me ofereceu
Falam da diminuição da idade penal
Sem oferecer o básico da sobrevivência
Hoje querem direitos iguais
Para quem nunca teve direitos
Dizem que cada um faz a sua escolha
Dentro de uma sociedade excludente
Até o meu fenótipo foi visto com marginal
Marginalizado pela melanina acentuada
Ultrajado pelo aparelho ideológico do estado
Mãe Pátria sendo algoz do seu próprio filho
Igualdade nem mesmo na carta magna
Onde os incisos priorizam os abastados
E os escravos descendentes continuam
Refém nas favelas senzalas modernizadas
dizem que eu poderia mudar o meu destino
Se aos meus pais oportunidades lhes negaram

Osvaldo Teles

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