quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Pronto para a partida

O pau de arara está pronto para a partida
Desfaço no peito a oração da fé
Até mesmo as rezas para São José
Não surtiram nenhum efeito a chuva não caiu

Literalmente vendo o tempo passar
Sem vislumbrar nenhuma melhoria
O sertão amado vai ficando para trás
O destino perverso não muda a sina

A seca castiga sem dó e nem piedade
Deixando o solo todo rachado
Os pés de feijão secando no roçado
Minha boneca de milho já morreu no pé

Açucena que era flor resistente
Não aguentou o calor se entregou
No topo das árvores já não canta o sabiá
O riacho que corria está seco

Matando de sede os animais no curral
O funeral do João retrata a vida no sertão
Cada enxadada dada no solo ela trincava
A esperança era sepultada com o João

Os urubus sobrevoam os bichos 
Prestes a morrer de fome
Só estavam em pele e osso
A sombra do umbuzeiro o sol a devorou

A cabra que dava leite também morreu
Agora tristonho vou deixar a minha terra
Vendi o resto que me sobrou
Como asa branca fui embora

Com uma vontade danada de voltar
Mas o sertão é fértil quando a chuva cai
Tudo naquelas paragens florescem
Fazendo o sertanejo renascer das cinzas

Osvaldo Teles

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